quinta-feira, 21 de julho de 2011

COMENTÁRIO DO PROFESSOR JOÃO MATOS DA UFRN SOBRE O PROJETO DE IRRIGAÇÃO DA CHAPADA DO APODI

Parabéns às lideranças do Rio Grande do Norte que tiveram o bom senso de sentar à mesa com todas as partes afetadas pelo Projeto de Irrigação do Apodi. Não conheço o projeto executivo de irrigação. Nem mesmo sei se ele existe, pois o que tem sido apresentado são idéias gerais que parecem seguir a mesma concepção dos grandes projetos de irrigação pública já existentes no Rio Grande do Norte. As experiências dos Projetos Baixo Açu, Itans-Sabugi, Cruzeta e Pau dos Ferros não recomendam repetir a mesma concepção

Todos estão paralisados ou funcionando com muita dificuldade. Muitas são as explicações para esss dficuldades. Todavia, a mais importante delas, a meu ver, diz respeito à subordinação da agricultura à indústria, à inexistência de autonomia dos agricultores, e à formação de verdadeiros enclaves, sem efeitos comprovados na promoção do desenvolvimento local. A Região do Apodi tem uma experiência riquíssima de agricultura adequada ao semi-árido, baseada no desenvolvimento da apicultura, da cajucultura e da caprinocultura.


Tais atividades vêm demonstrando ser economicamenter viáveis, ambientalmente corretas, compatíveis com a cultura local, e socialmente geradoras de empregos e renda para centenas de famílias hoje organizadas sob a formas de redes institucionais formadas por grupos de agricultores, associações comunitárias, cooperativas e instituições governamentais e não-governamentais que tanto garantem autonomia alimentar quanto inserção nos mercados interno, internacional e institucional. 

Plantas que antes eram consideradas invasoras ou ervas daninhas, como maniçoba, velame, cabelo de velho, catingueira, pau branco, sabiá, jitirana, jurema de imbira, unha de gato e catanduva, agora são reconhecidas pelo seu potencial melífero e pela possibilidade de contribuir para a preservação da flora e da fauna e para a garantia de seguidas floradas e colheitas de mel de abelha de qualidade muito superior aos produzidos em outras regiões do país. Portanto, nos dias atuais a implantação de um projeto de irrigação não pode ser feita no sistema de "cima para baixo", sem considerar o conhecimento acumulado pela população na prática de atividades agropecuárias compatíveis com a realidade do semi-árido. 

A alternativa de bombeamento da água para cima da Chapada, é apenas uma alternativa. Talvez a mais cara de todas. Será a mais eficiente? Serra Negra do Norte, por exemplo, optou por uma barragem-mãe, seguida por barragens sucessivas locaizadas a jusante, que hoje fornecem água para a prática de uma irrigação compatível com a cultura local. Baraúna irriga a partir de poços rasos. O que nos ensinam essas experiências? Por que temos que partir sempre para uma única experiência sem discutir as alternativas, as propostas e o conhecimento locais? A realidade mudou! E o passo número 1 para nela intervir é construir políticas públicas consensuadas, posto que esta ainda é a melhor forma de solucionar conflitos! O custo da coerção e das soluções impostas, a história já mostrou, é econômicamente muito elevado, ambientalmente destrutivo, culturalmente inadequado e socialmente injusto.

Que prevaleça o diálogo! O "bom governo", como já nos ensinaram os filósofos gregos há mais de 2 mil anos, é aquele que traz a felicidade para o povo. Irrigação, produção, inserção comercial são meios, não a finalidade última de um "bom governo"! João Matos Filho Professor de Economia Agrícola da UFRN.

COMENTÁRIO DO BLOG: Obrigado o Professor João Matos e todos aqueles e aquelas que acreditam em nosso espaço e querem contribuir com os debates e conteúdos publicados por nós. Esse é uns dos principais objetivos deste espaço contribuir com o debate sobre temas relevantes para a transformação da sociedade e em especial na Agricultura Familiar, agora ressalto que só apresentamos e debatemos os comentários de quem de fato diz o nome e quem é.

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