Às vésperas da mobilização nacional que a entidade prepara para o dia 6 de julho, com greves, paralisações e atos públicos nas portas das empresas, o presidente da CUT Artur Henrique, em entrevista exclusiva a O DIA, endurece o discurso com o governo: “Não podemos achar que as mudanças virão pela boa vontade nas mesas de negociação. É preciso ter mobilização, organização de base a partir do local de trabalho”.
O DIA: Como o senhor definiria o atual momento do movimento sindical?
ARTUR HENRIQUE: — A CUT tem uma agenda forte. Estamos apresentando para os sindicatos filiados um debate de que é preciso aprofundar as mudanças já iniciadas no País. Não dá para fazer mais do mesmo. É uma crítica ao novo governo? — O que estamos dizendo é que é preciso enfrentar determinadas questões. Nós temos duas frentes de luta. Uma é mais imediata, que trata de salário, renda, benefícios, acordo salarial, redução da jornada para 40 horas, garantia da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (que restringe as regras para demissões e evita a alta rotatividade nos quadros de empregados) e fim do fator previdenciário.
Ela aborda questões mais complexas, ligadas ao modelo de desenvolvimento, meio ambiente e reformas tributária e política, política industrial, Seguridade Social…
A desoneração da folha de pagamento começa a tomar corpo. Há quem diga que a CUT esteja muito dócil. Como o senhor vê essa questão?
Não é nova. Empresários vêm com essa proposta há muito tempo. Não permitimos que fosse para a frente. Não é verdade por si só que isso resolva. Resolve o problema do lado empresarial e cria problema para a Previdência. Desonera só um lado. É preciso debate maior sobre estrutura tributária, que é altamente regressiva.
Como assim?
Hoje, quem ganha menos paga mais imposto. Quem ganha mais paga menos. Pagamos IPVA do carro, mas os helicópteros particulares não. Nossos impostos têm foco no consumo. Não na renda. Defendemos impostos progressivos de acordo com patrimônio e renda, especialmente no mercado financeiro. Aquele que não produz um parafuso ou porca quer ganhar dinheiro sem gerar emprego? Sem problema. Mas vai pagar imposto maior. Esse é o debate. Tem que ficar claro que o empresário que paga 20% sobre a folha e deixará de pagar 2 pontos percentuais vai aplicar isso em emprego. Ou vai comprar apartamento para a filha ou carro para o filho?
Como o senhor vê o movimento sindical oito anos após o governo de um ex-sindicalista? Está otimista?
Temos que estar. Nada foi fácil na vida do trabalhador nesses últimos 200 anos. É preciso ter mobilização e organização de base a partir do local de trabalho. Precisamos de comissões sindicais dentro das empresas para acabar com a alta quantidade de processos judiciais no Brasil. Hoje, surgem 2,3 sindicatos a cada dia, a grande maioria sem representatividade, só com taxas e mensalidades. Há empresas que fundam sindicatos. Patrão não tem que se meter nisso. Tem que administrar a empresa. É bom para a democracia e para o capital. A CUT tem agenda. Fomos ao Congresso em ocupação pacífica. No dia 6 de julho, teremos o Dia Nacional da Mobilização. Faremos grande manifestação no País, parando trabalhadores na porta da empresa, atrasando a entrada, seja em greve ou fazendo manifestação em local público.
p.s.: nossa mobilização será nacional, não restrita a uma única região, e não será com as demais centrais sindicais. Temos diferenças de concepção e de pauta que neste momento não apresentam horizonte de unidade.
Do Blog de Artur Henrique - Presidente da CUT Nacional
Nenhum comentário:
Postar um comentário