Agricultores estão aprendendo que a perpetuação da vida no sertão depende do conhecimento e da convivência harmoniosa com a caatinga.
Melhorar a renda e a qualidade de vida dos pequenos produtores do sertão sem destruir a caatinga. Essa é a meta de um projeto do Governo Federal em parceria com a ONU, a Organização das Nações Unidas.
A vida dos agricultores ganhou nova perspectiva com a chegada do projeto Dom Hélder Camara ao assentamento, parceria do Ministério do Desenvolvimento Agrário com a ONU. “É um projeto de assessoria técnica, onde as pessoas podem reverter e melhorar a qualidade de vida no campo produtivo, social e também se inserir no mercado diferenciado”, conta Fábio Santiago, agrônomo do projeto.
Os técnicos do projeto trouxeram para cá o conceito da agroecologia. “A ideia é fazer com que os conhecimentos tradicional e científico se encontrem e assim ter cada vez mais uma capacidade de convivência com as características da região semiárida”, explicou Felipe Jalfim, coordenador do projeto. A ideia é juntar tecnologia com a experiência dos agricultores e formar estoques de água, de alimentos, de forragem com sustentabilidade, sem destruir o meio ambiente.
Outra comunidade que trabalha com o projeto Dom Helder Camara no sistema de agroecologia desde 2003 é o assentamento Moacir Lucena, que fica na Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte.
Em 700 hectares vivem 26 famílias. A maioria dos moradores trabalhava como meeiro na antiga fazenda de algodão, que foi desapropriada para dar lugar ao assentamento.
Hoje, Irapuã Gomes é presidente da Associação dos Moradores do Assentamento e conta que, para melhorar a alimentação das crianças, surgiu a ideia de plantar frutas no quintal das casas. Foi assim que chegaram aqui os primeiros pés de cajarana, tamarindo, manga, acerola, araticum. A ideia deu tão certo, que a produção de frutas virou negócio.
Com a ajuda do Dom Helder e da Coopervida, ONG que presta assistência técnica para o assentamento, os agricultores construíram uma pequena fábrica, que transforma as frutas em polpa. Já são 12 toneladas por ano. A maior parte da produção é vendida para os programas de aquisição de alimentos do Governo Federal.
Outra ideia que deu certo: uma horta comunitária que produz verduras e legumes. A produção é dividida primeiro entre as famílias. O que sobra é comercializado.
Quando as famílias foram assentadas, a área estava degradada por muitos anos de cultivo de algodão. Os agricultores demarcaram a reserva legal e há 12 anos vêm recuperando áreas de caatinga.
Com o desafio de produzir e ao mesmo tempo preservar, os agricultores optaram pelo sistema agrosilvopastoril: modelo desenvolvido pela Embrapa, que junta lavoura, pecuária e floresta na mesma área, sem desmatar, queimar nem usar agrotóxico. O cultivo é feito em faixas, deixando entre elas uma linha de plantas nativas.
Dentro do princípio da agroecologia, para economizar pasto, cada família tem direito de manter apenas uma vaca leiteira, mas quase todos os assentados criam cabras e ovelhas, que ajudam a complementar a renda. Como os lotes individuais são pequenos, têm só 19 hectares, os rebanhos podem ter no máximo 70 animais.
Só se trabalha com animais mestiços, que passam a maior parte do tempo pastando na caatinga. Eles foram comprados com recursos que o projeto Dom Helder conseguiu a fundo perdido.
Tantas mudanças trouxeram mais renda e qualidade de vida para os assentados.
Seja nos tempos das águas, seja na seca, os agricultores estão aprendendo que a perpetuação da vida no sertão depende do conhecimento e da convivência harmoniosa com a caatinga.
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