quinta-feira, 15 de março de 2012

Salário baixo causa crise nos países capitalistas, diz Artur Henrique

Presidente da CUT satiriza afirmação feita pelo Estadão de que salário alto causa desemprego. Fala também de desoneração da folha e queda do spread


Escrito por: Isaías Dalle


Em editorial publicado hoje, o jornal “O Estado de S. Paulo” afirma que salário alto causa desemprego. Para chegar a essa conclusão, o jornal recorre a dados captados por recente pesquisa do IBGE que apontam que a indústria brasileira, desde agosto do ano passado, cortou o nível de emprego em 1,2%. E como a indústria alega, de maneira cândida, que fez isso para conter o avanço da massa salarial, o Estadão conclui que salário alto provoca desemprego.


Na entrevista a seguir, o presidente da CUT ironiza o raciocínio do jornal, critica a posição da indústria e, a sério, coloca a questão em perspectiva histórica.

Além disso, comenta também as propostas de desoneração da folha e a notícia de que os bancos públicos serão mais agressivos para derrubar o spread bancário.


Artur, em editorial, o jornal Estado de S. Paulo afirma que salário alto causa desemprego. O que você acha?


Artur : Que absurdo, né? (risos). Quer dizer então que se o trabalhador tiver mais dinheiro para comprar produtos industrializados e a indústria vender mais, terá de demitir? A verdade é: salário baixo causa crise internacional no capitalismo. Nos Estados Unidos, por exemplo, um ciclo de rebaixamento constante de salários e combate às atividades sindicais, iniciado nos anos Reagan, levou com o tempo os trabalhadores a enfrentar o empobrecimento através da falsa promessa de crédito abundante e deu no que deu. Aliás, o próprio Estadão, há alguns meses, publicou um texto de um economista estadunidense que detalha esse fenômeno.


(Artur refere-se a artigo do professor Robert B. Reich, ex-secretário do Trabalho entre 1993 e 1997, que o Estadão reproduziu em setembro do ano passado. Para ler o artigo, clique aqui).


É lamentável que o setor industrial brasileiro endosse uma tese absurda dessas, de que salário provoca desemprego.

Outra notícia em evidência hoje diz respeito a intenção do governo de estudar a ampliação das desonerações sobre a folha. O que a CUT pensa disso?


Há um ano, quando o governo Dilma apresentou o chamado programa Brasil Maior, e nele incorporou a proposta de passar a cobrar, para alguns setores, a contribuição previdenciária sobre o faturamento, e não mais sobreo número de trabalhadores contratados, a CUT disse claramente que era preciso criar um grupo de trabalho que monitorasse mensalmente os resultados da medida. É preciso checar, na ponta do lápis, se a Previdência ganharia ou perderia recursos com isso. Se perdesse, quantos reais o Tesouro teria de desembolsar para cobrir a lacuna. Do jeito que é hoje, esses números são um segredo guardado a sete chaves, indecifrável até mesmo para o mais hábil economista ou contador.


Até agora, o governo federal, que havia dito concordar com nossa demanda, nada fez a respeito.


Outra coisa. É preciso também haver o monitoramento de quantos novos empregos foram criados, ou não, a partir da mudança. Sim, porque o eterno motivo alegado para a desoneração é a geração de mais empregos.


Se, por outro lado, a mudança for sendo implementada do modo como está acontecendo agora, vamos saber só lá adiante se deu certo ou não.


O governo está dizendo que vai colocar os bancos públicos, Caixa e Banco do Brasil, especialmente, para forçar a queda no spread bancário e puxar os bancos públicos na mesma direção. Isso é bom?


É um bom começo. E reflete, em parte, imagino, a pressão que a CUT e suas entidades do ramo financeiro têm feito sobre o governo e os bancos nesse sentido. Repito que precisamos convocar uma Conferência Nacional do Sistema Financeiro para debater a fundo o papel dos bancos nesse país. Todo mundo dá sua cota de sacrifício para o crescimento do País, menos os bancos.


Para ler mais sobre a falta de compromisso dos bancos públicos com um projeto de país, clique aqui.

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