terça-feira, 14 de março de 2017

Uma leitura do chão em que pisam


No momento delicado e de incertezas que os brasileiros vivem, o 12° Congresso Nacional dos Trabalhadores rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (12º CNTTR) da CONTAG reservou a manhã de hoje (14) para realizar uma análise de conjuntura. Com mediação da secretária de Mulheres da CONTAG, Alessandra Lunas, participaram dos debates a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Clemente Ganz Lúcio, e a professora da Universidade Federal de Campina Grande, Maria do Socorro Silva. 

De acordo com Alessandra Lunas, a intenção da CONTAG é proporcionar às lideranças a possibilidade de fazer uma leitura do chão em que pisam, ou seja, compreender como o atual cenário político e econômico está se construindo e, consequentemente, como suas lutas se articularão nesta conjuntura. “O Brasil hoje tem um cenário com características bastante distintas e se assiste a uma retomada do autoritarismo, um desmanche de direitos políticos, sociais e trabalhistas. Diante deste contexto, o movimento sindical precisa se reorganizar e se reorientar em sua estratégia de ação. O que era válido há dez anos agora exige outro foco. Nada melhor do que um momento como aqui neste Congresso para se fazer uma reflexão”, afirma a dirigente.

O ralo da dívida pública


Em sua apresentação, Maria Lucia Fattorelli foi questionada pelos(as) delegados(as) participantes sobre qual é, na opinião dela, o maior problema do país. A auditora aposentada respondeu: “É o financeiro, o qual é propagado pelo governo como a razão de fazer a Reforma da Previdência Social. Esse é o foco que eu gostaria de colocar a todos vocês para levarem às bases. Se organizarmos o campo, vamos barrar essa reforma que, na verdade, é uma contrarreforma”, explicou.

De acordo com Maria Lucia Fattorelli, a chamada dívida pública retira, todos os anos, quase a metade do orçamento brasileiro. Em 2016, nada menos do que 43,94% dos R$ 2,572 trilhões produzidos por nosso País vão para juros e amortizações da dívida. “Mesmo assim, o mercado financeiro quer muito mais. Assim, atacam a Previdência Social, que detém um volume considerável de recursos que atende a mais de 60 milhões de brasileiros. Além disso, miram nos direitos trabalhistas para aumentar seus ganhos e, com isso, sacrificar classe trabalhadora”, observa.

A principal luta de Maria Lucia Fattorelli é pela auditoria cidadã da Dívida Pública, uma vez que o endividamento público tem funcionado às avessas, ou seja, em vez de servir para aportar recursos ao Estado, explica ela, tem servido para provocar uma contínua e crescente subtração de recursos públicos, direcionados, em especial, ao setor financeiro privado. “Além de liquidar os orçamentos em todas as esferas – federal, estadual e municipal – e exigir a contínua privatização de patrimônio público para seu pagamento, a dívida pública tem sido a justificativa para contínuas reformas que cortam direitos sociais, tais como a Previdência, e modificações legais que garantem ainda mais privilégios para os banqueiros, entre eles o engessamento do Estado por 20 anos para que sobrem mais recursos para pagar os juros e o aumento das Desvinculações de Receitas da União (DRU) para 30%”, afirmou.

Antes de encerrar sua manifestação, Maria Lucia Fattorelli disse aos delegados(as) que eles(as) são privilegiados por serem associados a uma entidade do Sistema CONTAG. Ela lançou a campanha denominada Consulta Nacional sobre Reformas e Auditoria da Dívida. São quatro perguntas que podem ser respondidas no site www.consultanacional2017.com.br

Verbo esperançar


Lutas e resistências: o exercício do esperançar. Esse foi o tema da palestra de Socorro Silva dedicada a uma análise conjuntural. Ela acredita que, hoje em dia, mais do que nunca, é necessário ter esperança no verbo “esperançar”, o qual leva a todos ao movimento, o que atualmente é fundamental. “As lutas precisam estar bastante presentes em nosso cotidiano, as quais exigem muita resistência de nossa parte. Mais uma vez, o aprendizado da resistência está na ordem do dia. Nós já vivemos muito o aprendizado da resistência na ditadura militar de 64 e agora estamos tendo outro tipo de golpe, isto é, parlamentar, judiciário e midiático que está em curso no Brasil e, portanto, as lutas precisam ter esse foco. De que forma vamos agir nessas frentes e acho que o esperançar alimenta essa mística de lutar e se organizar, o que é fundamental neste momento”, afirmou Socorro.

A luta pela terra deve continuar


Já o diretor técnico do DIEESE, Clemente Ganz Lucio, disse que a CONTAG terá um conjunto de desafios para a agricultura familiar associados ao acesso à terra, inclusive a luta contra essa “política absurda” de venda de terras a estrangeiros, simultaneamente ao desenvolvimento e a garantia das políticas necessárias à produção, tais como programa de crédito, assistência, comercialização, bem como todas as demais políticas que fazem parte da organização econômica da produção da agricultura familiar. Além disso, continua Lúcio, as políticas que estão vinculadas à assistência, à educação, à saúde e à Previdência Social. “Todas essas políticas estão ameaçadas. No caso da Previdência, por exemplo, temos um projeto encaminhado pelo governo federal que afeta gravemente o direito previdenciário da mulher e do homem do campo, o que poderá se configurar além da perda de direitos, uma falta de incentivo à produção de alimentos”, afirma.


FONTE: Assessoria de Comunicação do 12º CNTTR - Luiz Boaz

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