quinta-feira, 9 de março de 2017

Marca é marca...

Crispiniano Neto*

Se alguém perguntar quem esculpiu Moisés em mármore, e, ao vê-lo tão perfeito, meteu-lhe o martelo no joelho, dizendo: Parla Moisés!!!, com certeza ninguém terá dúvidas de que foi Michelângelo Buonarroti, que repreendeu quem pediu-lhe que assinasse o seu Davi: “Daqui a mil anos saberão que fui eu quem fez...”
Alguém no mundo irá duvidar de que foi Jesus quem transformou água em vinho nas Bodas de Caná, só porque ele não serviu as taças?
Pode-se questionar a verdadeira libertação dos escravos, mas quanto à Lei Áurea, não resta dúvidas de que foi assinada pela Princesa Isabel;
Roberto Carlos já passa dos 70 anos, mas continua sendo tratado como “O Rei da Juventude”
Muitos jogadores já fizeram mais de mil gols, mas o que vai ficar na memória coletiva é o milésimo gol de Pelé, goste-se dele ou não;
Qualquer que seja a Lâmina de Barbear que por ventura alguém usado antes do Prestobarba, vai continuar lembrando a “Gillette”;
Qualquer que tenha sido o Toca-discos que consolou a roedeira do seu pai ou avô, ele vai morrer pensando que foi uma “Vitrola”; 
Motoniveladora pode ser de mais de um fabricante, mas vai ser sempre chamada de “Caterpillar”; 
Qualquer lã de aço que sua mãe usou ou ainda usa, vai sempre chamar de Bombril e achar que ela tem “mil utilidades”, 
Ao por na boca qualquer Goma de Mascar, você vai dizer que está chupando “Chiclete”;
Seus curativos adesivos, sempre lhe parecerão “Band-Aid”;
Todas as Hastes Flexíveis que lhe limpam os ouvidos lhe soam como “Cotonetes”.
Mas... Todas estas palavras entre aspas, não designam produtos, mas apenas marcas comerciais que suplantaram as mercadorias na memória coletiva. Portanto, o Canal do São Francisco “para séculos sem fim, amém”, há de lembrar Lula e Dilma, principalmente Lula, apesar de ter ela feito mais quilômetros de canal, que ele. 
Foi a iniciativa de arrancá-lo das gavetas empoeiradas, quase 170 anos depois de José Bonifácio tê-lo engavetado sob as barbas de Dom Pedro II, que deu o tom. É obra de Lula e o boi não lambe...; “O que é do home, o bicho não come”. E quem duvidar que “Passe por perna pinto e passe por perna de pato...”. 
Prossigamos nas Notas Curtas

Notas Curtas

Xerox
O resto que vier pela frente, ainda que fazendo-se uma festa de inauguração a cada um dos quase 500 quilômetros, não passará de cópia falsa. Não é ouro, é “Michelin”. E assim como as fotocópias, qualquer que sejam as marcas das copiadoras, você sempre chamará de “Xerox”, também não tem quem tire do juízo do povo o nome de Lula, quando se falar do Velho Chico.

Teflon
É que esta obra está pregada ao nome de Lula, como uma Fita de Adesiva que, qualquer que seja o fabricante, você há de chamar de “Durex”. E assim como Fermento Químico em Pó, Lula estará sempre igualzinho ao “Pó Royal”, crescendo com a massa. Por mais que a palavra ‘pó’ lembre outro candidato...

Inox
É que o nome de Lula é como Aço Inoxidável, não enferruja nem ‘mareia’, como o aço da marca “Inox”, mesmo que todos os outros Aços Inoxidáveis também tenham tais propriedades.
Por mais que enlameiem o nome de Lula, ele estará sempre brilhando como se fosse limpo com Desinfetante com Cheiro de Pinheiro, que você nunca deixará de chamar de “Pinho sol”, por mais que seja de outra marca.

Teflon
Difícil acabar com o nome d’O Cara, porque ele não foi escrito na areia, nem na espuma do mar. Foi inscrito nos corações e mentes das massas, tem cheiro de comida, tem peso de teto, tem o doce da água que mata sede, tem o azul da Carteira do Trabalho e o amarelo do ônibus escolar, tem o grito da sirene do Samu, tem a delicadeza de um Brasil Sorridente e a alegria da colação de grau da filho da empregada doméstica e do catador de lixo. Tem sabor de merenda do menino. 
E mais, ainda,  porque depois de 43 anos de acusações não provadas, sujeira nenhuma consegue pregar mais no seu couro curtido, lavado em nove águas, rezado com ramos de arruda e benzido com sal grosso. 
É como se ele tivesse pegado um revestimento antiaderente, o politetrafluoroetileno, nome bonito que, com certeza você não sabe, e, com mais certeza ainda, chama de “Teflon”.

Cibazol
Pode qualquer picareta da Paraíba, de Pernambuco, do RN ou do Ceará, sair enchendo ruas, campos e construções de outdoors;
Pode o vampiresco Michel Temer, conhecido como ‘MT’ no submundo do crime, sair inaugurando pedaço de canal com seus discursos empolados, que ainda assim, o fetiche da autoria, ele jamais ‘consegui-lo-á’, por mais próclises, ênclises e mesóclises que gaste. 
Será igual ao sujeito pernóstico que chegou no balcão da farmácia e pediu um envelope de ‘Dimetilamenofenildimetilpirazolona’ e o balconista arregalou os olhos, dizendo: “Por que o senhor não pede Cibazol?”: É por que às vezes eu” esqueço”, respondeu o afetado falastrão.

Transposição tem ‘Cara’
Quer dizer: Não adianta omitir ou se fazer de esquecido. 
A Transposição do São Francisco tem cara. 
Aliás, tem duas caras, a de Lula e a de Dilma, mas a cara que será sempre muito cara ao Nordeste é mesmo a cara d’O Cara’, mais um nome que virou marca e se confunde com os produtos: Bolsa Família, Luz Para Todos, Minha Casa Minha Vida, Prouni, Cotas, Cisternas, etc, etc, etc e reticências...
Transposição sem Lula é Kleyton sem Kledyr, é Caetano sem Gil, Bethânia sem Gal, Jararaca sem Ratinho, é o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor... É Julieta sem Romeu, Juazeiro sem Padre Cícero e Brasília sem JK.


Vila Amazonas da Serra do Mel – RN, 07 de Março de 2017

CRISPINIANO NETO é escritor com 22 livros publicados e jornalista, com a coluna Prosa & Verso, diariamente publicada no Jornal De Fato, de Mossoró (www.defato.com). Cordelista membro da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Engenheiro=agrônomo e Bacharel em Direito.

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