quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Traidor


Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento janeiro 2016).

"Sei que a senhora não tem confiança em mim e no
PMDB, hoje, e não terá amanhã" (Michel Temer).

Dilma disse: eu confio no meu vice.

O vice disse: não, ela não confia em mim.

Com a carta Temer mostrou que ele tem razão: ele não é confiável. Dilma nunca deveria ter confiado nele.

Um vice que abandona o seu governo no momento mais crítico passa para a história com um só epíteto: traidor.

Não é golpista, é traidor.

A sua carta desequilibra o jogo do impeachment em favor de Eduardo Cunha, de quem Temer parece ser mais próximo do que imaginava a nossa vã filosofia.

Dilma tem agora apenas um aliado de peso no PMDB: Renan Calheiros.

Não dá para dizer que Leonardo Picciani tenha algum peso, principalmente depois de ter sido reduzido a pó pelo missivista inesperado.

A carta-bomba do Temer é um claro sinal para os peemedebistas abandonarem o navio.

Ele não é o capitão do golpe, como definiu Ciro Gomes, mas o capitão do motim.

País dos delatores, o Brasil ganha o seu primeiro grande traidor do século 21.

E o vice ganha, finalmente, o protagonismo perdido.

Assume o papel desprezível de Brutus, de Joaquim Silvério dos Reis e do Cabo Anselmo. E revela que a sua grande especialidade é a punhalada pelas costas.

A carta é um divisor de águas, que as tornou mais turvas.

Temer abandona o papel de mordomo de filme de terror e assume o do Frankenstein.

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