segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Puxando orelhas

Por Gilderlei Soares
Em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo-SP, era aprovado o manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores. A ideia de formar um partido dos trabalhadores amadureceu nas lutas no final da década de 1970.
Existia toda uma conjuntura política, social e cultural que tornava favorável a criação do Partido dos Trabalhadores. Se aqueles 1.200 militantes não tivessem fundado o PT, outros tantos iriam fundar um partido da classe trabalhadora brasileira.
Entre as palavras de ordem gritadas naquele dia 10 de fevereiro de 1980 estavam: “Terra, Trabalho e Soberania” e “Quem bate cartão não vota em patrão”.
Palavras de ordem que ainda continuam atuais depois de 35 anos.
Nesta sexta-feira, dia 20 de novembro de 2015, um dos que estiveram presente no Colégio Sion fez fala na abertura do Congresso da Juventude do PT. Em seu discurso, Lula cobrou apoio dos e das militantes da juventude do partido para “ajudar Dilma a sair da encalacrada que a oposição nos colocou”.
Sobre a política econômica, Lula se limitou a dizer que “espera que Dilma aprove tudo e que possamos retomar o crescimento”.
Em meio a gritos de “Fora Cunha”, “Fora Levy” e “Nem o Mereilles, nem o Levy, eu quero a Dilma que elegi”, Lula citou as dificuldades de governar sem ter que costurar alianças. O nosso ex-presidente também falou que “entre o desejo ideológico partidário e o mundo real da política há uma distância enorme”.
No meio de sua fala, Lula foi interrompido por gritos de “Lula de novo, com a força do povo!”, que foram respondidos com pedidos de calma, para “não queimar nenhuma etapa”. “Não tem 2018 se a gente não tiver 2016″.
Lula dedicou parte de sua fala a dizer que “Fora Cunha!, Fora Levy!, Fora PMDB” não era radical, que radical era o que foi feito no Sion. Aqueles que não gritaram, por convicção ou por vergonha, interpretaram como um “puxão de orelha” nos “radicais” que gritavam “Fora Cunha”, “Fora Levy” e “Nem o Mereilles, nem o Levy, eu quero a Dilma que elegi”.
Da conjuntura que o PT foi criado até hoje muita coisa mudou. Por isto, não sou daqueles que “prega um PT de volta as suas origens”. Estou entre os que querem um partido que consiga dar respostas concretas a realidade concreta que a luta de classe em nosso país exige.
Neste sentido, acredito que ser de esquerda e socialista na conjuntura atual, depois da derrocada do socialismo no leste europeu, do neoliberalismo da década de 1990 e das contradições depois de 13 anos de um governo de centro-esquerda em nosso país, com todo respeito ao Lula, é tão “radical” quanto os que estiveram no Sion em 1980.
A crise econômica que enfrentamos; as ações dos setores da direita, inclusive a direita ultra-reacionária, que procuram nos desmoralizar diante da classe trabalhadora; e a falta de uma estratégia que nos permita ter uma contra-ofensiva nos obriga a uma radicalidade semelhante àquela dos presentes naquele 10 de fevereiro de 1980.
A conjuntura atual é diferente da conjuntura de 2002, da década de 1990, da década de 1980. A atual estratégia adotada pelo partido, que nos trouxe até aqui, chegou ao seu limite. Precisamos de uma nova estratégia.
Lula tem razão: “Não tem 2018 se a gente não tiver 2016″. Só que sem uma nova estratégia não teremos não só 2016 e 2018, mas podemos sofrer uma derrota política que levará anos para a esquerda brasileira retomar aquela conjuntura semelhante ao Sion, de 1980.
Se quisermos vencer 2016 e 2018 precisamos mudar a política econômica, começando pela redução imediata da taxa de juros e o cumprimento integral do Orçamento, passando pela revisão do pagamento da dívida pública, o controle do câmbio e criação de mecanismos que impulsionem um plano de obras públicas, tendo como suporte os bancos públicos e a Petrobrás.
Sem uma nova política econômica não teremos como retomar o crescimento.
“Puxando orelhas”, Lula precisa dizer também que entre o mundo real da classe trabalhadora e o mundo do Levy e do Meirelles existe uma enorme distância.  
Por isto precisamos de uma juventude que tenha coragem de encabeçar “O Fora Levy, Fora Cunha, Fora Meirelles!”. Não queremos nem o banqueiro do Bradesco, nem o banqueiro do Bank Boston.
Uma juventude que faça a defesa do governo contra a direita, mas que ao mesmo tempo exija deste governo o programa com o qual ele foi eleito em outubro de 2014. Que tenha a ousadia de lutar contra este ajuste fiscal, que causará cada vez mais recessão. E que, ao contrário do que o Lula parece acreditar ser quase impossível, defenda uma nova forma de governabilidade, baseada na reconstrução da base social que elegeu Dilma no segundo turno de 2014.
Democrática, Socialista, Revolucionária, Radical!
Uma juventude para tempos de guerra! Um partido para tempos de guerra!
*Gilderlei Soares é militante do PT/RN.

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