quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Partido dos Trabalhadores: Alguma coisa está fora da ordem

Por Bruno Costa*


Alguma coisa está fora da ordem na cúpula dirigente do Partido dos Trabalhadores. Sim, na cúpula. Aquela história de que o PT é um partido democrático, com eleições diretas para eleger suas direções e com direções democraticamente eleitas para tomar as decisões políticas necessárias se transformou em estória. Torna-se preferível o modelo dos tradicionais partidos comunistas, onde a existência de um comitê central não é fantasiada, mas sim reivindicada.

Para analisar minuciosamente a crise seria necessário recorrer a Freud, investigar as relações entre criadores e criaturas e perceber o exato momento em que as criaturas se transformaram num problema difícil de administrar para os criadores. Mas a presente provocação não pretende tanto, no máximo apontar os indícios da crise.

Quando ícones da cúpula dirigente do PT se opõem publicamente à sintaxe e à semântica da presidenta Dilma, quando quadros históricos do partido se sentem ausentes da cúpula dirigente da qual faziam parte e manifestam rompimento político, quando os instrumentos de comunicação do partido são explorados para resgatar uma entidade quase maçônica chamada Articulação Unidade na Luta, tudo leva a crer que a crise está instalada e que nem mesmo a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), que hegemoniza a direção nacional do PT, será capaz de superá-la.

É preciso então reunir os seres iluminados responsáveis pela criação do PT, pela eleição do primeiro operário e da primeira mulher presidentes do Brasil. Quem disser que não estará prevaricando ou tergiversando, afinal, não havia outro caminho para ser trilhado pela esquerda brasileira a não ser o caminho que resultou na famosa carta ao povo brasileiro, o resto é devaneio esquerdista.

Como militante do PT que esteve lado a lado com militantes do PSTU num cordão de isolamento para evitar o massacre da militância de esquerda durante as jornadas de junho de 2013 na capital do Rio Grande do Norte, espero sinceramente que o conteúdo da crise seja amplamente debatido no 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, do contrário o PT poderá se transformar na fachada de uma federação socialdemocrata e, como tal, perderá o sentido para a militância que não crê em oráculos nem está disposta a mistificar a realidade.

* Bruno Costa é Secretário Estadual da JPT-RN e dirigente estadual da Articulação de Esquerda

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