terça-feira, 25 de novembro de 2014

Aumento dos juros não reduziu a inflação. Só agravou o baixo crescimento

Conforme informa o Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff anuncia até 6ª feira próxima a equipe econômica do seu 2º governo oficializando Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e a continuidade de Alexandre Tombini à frente do Banco Central (BC). Os novos ministros chegaram nesta 3ª feira a Brasília para tratar da transição nas respectivas pastas e serão empossados já no momento da oficialização de seus nomes.

Com a posse da nova equipe econômica, o país aguarda todo um roteiro sobre como fazer a transição para retomar o crescimento econômico sem abandonar o projeto de distribuição de renda, combate à pobreza com manutenção das conquistas sociais e das políticas de integração regional. Ao mesmo tempo é preciso mostrar como será empreendido simultaneamente o que é imprescindível:  fazer as reformas política e tributária, sem as quais não há como avançar.
Sobre essas políticas de retomada do crescimento com manutenção do social e da inclusão de amplas massas da população temos de decidir como tocá-las em frente. Decidir, por exemplo, se vamos diminuir custos reduzindo salários e renda ou aumentando a produtividade via logística, tributos, juros e inovação.
País espera da presidenta um diagnóstico sobre o novo governo
Decidir se vamos reduzir o déficit público nominal via corte dos gastos e investimentos ou via reforma tributária. Decidir, também, se vamos reduzir os juros, que precisam ser cortados – e muito – e aumentar o superávit ou elevar os dois (juros e superávit) e impedir que a economia saia da recessão técnica, continue estagnada como esta ocorrendo.
Decidir, ainda, se vamos manter a política de crédito e o papel dos bancos públicos no nível atual ou se vamos reduzir esse papel e abandonar as empresas a mercê dos juros de mercado ou do endividamento externo de alto risco. Na atual situação mundial, um país como o Brasil não tinha como manter o crescimento, o emprego e a renda, sem reduzir o superávit e aumentar o papel do Estado e dos bancos públicos.
O que querem obrigar o governo a seguir agora nessas questões foi adotado nos Estados Unidos, Japão e Europa sem sucesso.Japão e Europa estão ainda em recessão. Inclusive a Alemanha não mantém mais seu crescimento em decorrência da queda das suas exportações para a própria Europa.
Aqui, até agora, o aumento dos juros – de 4% na taxa básica da Selic de agosto pp. para cá – não reduziu a inflação. Só aumentou o déficit e a divida públicos, derrubou a arrecadação e agravou o baixo crescimento. E ainda por cima, aumentou e muito o lucro dos bancos e dos rentistas. Tampouco o nosso aumento nas desonerações, nos gastos públicos e no crédito subsidiado levaram ao crescimento,  se bem que impediram uma recessão seguida de desemprego e queda da renda.

Uma repactuação na sociedade, um novo acordo econômico, político e social

Tudo indica que a questão é política – insistimos nesse ponto, como sempre destaca o ex-ministro José Dirceu  – e exige uma repactuação  na sociedade a partir do novo ministério e do novo Congresso Nacional sob a liderança da presidenta da República reeleita. Mas é preciso que as forças reais, sociais e políticas, participem e se mobilizem para que todas as  vozes e interesses sejam ouvidos, e para que o poder econômico e a mídia não pautem e decidam as políticas  – inclusive, as atuais nomeações de ministros para o núcleo econômico do poder.
Nesse sentido há uma grande expectativa de como será constituído o futuro núcleo político do governo – a chefia da Casa Civil, o ministério de Relações Institucionais,  mais alguns ministérios como os das Comunicações e da Justiça, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e as lideranças do governo na Câmara e no Senado.
A presidenta e seu partido o PT, mais a principal liderança petista e nacional, o ex-presidente Lula, têm grande responsabilidade na mobilização da sociedade e na abertura de canais de dialogo para além do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o CDES, também chamado de “Conselhão”) da Presidência da República.
Forças de esquerda precisam se mobilizar

Além, é claro, do papel a vir a ser desempenhado pelos partidos – o PT à frente – e as entidades sindicais e populares. As forças de esquerda, mesmo as de oposição, precisam se mobilizar a apresentar suas propostas e demandas. Partir para a pressão nas ruas e no Congresso Nacional, junto ao governo e ao próprio PT para impedir que a vitória eleitoral se transforme numa derrota política estratégica.
Só assim estarão impedindo que a história se repita – agora  como tragédia – com uma rendição total ao grande capital e ao conservadorismo, hoje encarnado na mídia empresarial.
Para a conquista do êxito nessa empreitada é preciso, com urgência, ocupar as ruas e mobilizar os que elegeram a presidenta Dilma. Pressionar e exigir a mudança e o novo pacto político, econômico e social, a nova repactuação, a começar pela exigência de uma reforma política. E que está seja feita já em 2015 e  viabilizando uma nova governabilidade e governança para que, aí,  o país possa avançar nas demais reformas necessárias.
Que a reforma política feita em 2015, então, seja seguida de uma reforma tributária que realmente taxe as altas rendas e os ricos,  de reforma urbana priorizando o social e a mobilidade, e por exemplo, de uma reforma na segurança pública, que ponha um fim ao atual modelo herdado da ditadura – uma reforma enfim, em profundidade do Estado, que o democratize e o coloque sob controle e a serviço da sociedade.
Blog do Zé Dirceu

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